Sunday, March 25, 2007

...esquecido


...

"Aquelas maçãs verdes que costumávamos apanhar despreocupadamente das árvores, pequeninas, calosas, com bichos, tão vivas no sabor, tão ricas na textura. Cada uma delas era absolutamente única, irrepetível, inclonável. Estavam todas por ali, à beira do caminho, de cada vez que nós partíamos para ver o mundo, sem carro, sem casa, sem mapa, sem horas, como nas grandes epopeias medievais, ou como no virar da página de tantos contos tradicionais portugueses. Não tínhamos nada. Por isso, também não havia nada que não fosse possível. Estávamos todos apaixonados, regra geral pelas pessoas erradas. Por isso, as paixões viviam-se como grandes aventuras toas ainda em aberto, e porque era assim que vivíamos éramos completamente leves.

Depois ninguém se lembra lá muito bem do que foi que aconteceu, mas de repente já não nos restava qualquer leveza. Como que de um dia para o outro, carregávamos agora nos ombros todo o peso do mundo. A vida era um labirinto de responsabilidades e deveres sem grande sentido, onde já não existiam caminhos e já não cresciam maçãs retorcidas penduradas dos muros. E, dos amores, existiam amarguras que nem sequer tinham nome. Era como se nos tivéssemos acostumado à ideia de que não ia ser bom, e de que nunca existiriam fins felizes.
E, depois de nos termos habituado, já nos tínhamos mesmo esquecido.
Já ninguém se lembrava de invocar sequer o conceito de felicidade.

O mundo dos nossos dias está a atravessar um ciclo histórico de mudança rápida e permanente, quase sempre para pior. Insensivelmente, sem darmos sequer por isso, praticamente todos os dias perdemos mais um bocadinho da nossa intergridade, da nossa qualidade humana, da nossa calma, do nosso ritmo pessoal, das nossas ideias próprias, dos nosso tempo interior, dos nossos sonhos, da nossa alma. Temos que correr tanto, e somos bombardeados por todos os lados com tanta informação, que nos vamos deixando embrutecer, esgotar, degenerar intelectual e espiritualmente, até ficarmos completamente plastificados, massificados, sem identidade nem rumo, como num formigueiro disfuncional em que todos parecemos iguais mas não somos, e todos temos funções precisas e mecânicas para executar mas nunca conseguimos sequer perceber o que é que estamos mesmo a fazer, nem porquê."
...

in "canções que já não existem" de Clara Pinto Correia

Tuesday, July 18, 2006

E nelas navego atraída pelo o que não conheço e pelo o que me fazem sentir! Pertencem ao desconhecido, mas podiam ser minhas. E nas tuas revejo as minhas. E são elas que descrevem retalhos de alma, de vida, elas as palavras!

Mas

Queria poder gritar mas não o faço não é politicamente correcto muito menos aceitável. Queria remover a dor que carrego no peito mas não posso não me deixam adormecê-la. Queria despir toda a camada superficial revelar o meu verdadeiro ser mas não posso estou amarrada. Queria poder explicar o que sinto mas as palavras essas foram gastas pelo o mau uso. Queria poder aprender a viver mas faltam-me as forças. Queria poder te dizer ...mas...

Saturday, April 22, 2006

Poeiras

Dá que pensar:

" Nós somos todos poeiras de estrelas, porque os átomos de massa mais elevada que constituem o nosso organismo foram criados na explosão de supernovas no universo inteiro"

Hubert Reeves em "Poeiras das estrelas"

Thursday, April 20, 2006

Virtude ou vício

Neste árduo caminho de busca intelectual em prol da Ciência e Humanidade perdemos muitas vezes o sentido do tempo, na minha vida os segundos tornam-se horas, as horas em dias..
Digo a mim própria que trabalho é uma virtude, mas na realidade o que existe é ócio assim sendo, o trabalho é um vício. A vida deixa de ter prioridade, perde-se a dimensão e a noção dos limites.
A leitura do livro ”Escuta, Zé Ninguém” de Wilhelm Reich descreve bem o momento que vivo:

"Sabes melhor lutar pela tua liberdade que preservá-la para ti e para os outros. Isto eu sempre soube. O que não entendia, porém, era porque de cada vez que tentavas penosamente arrastar-te para fora de um lameiro acabavas por cair noutra ainda pior. Depois, pouco a pouco, às apalpadelas e olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU O TEU PRÓPRIO NEGREIRO. A verdade diz que mais ninguém senão tu é culpado da tua escravatura. Mais ninguém, sou eu que te digo"

Sunday, April 16, 2006

Yeshua





Yeshua porquê? Terá valido a pena? Há quem diga que foi por loucura, outros que por amor...


Eu prefiro acreditar que não foi em vão!

Friday, April 14, 2006

Caminho



Finalmente hoje sei que tudo tenho, mesmo quando procuro no crepúsculo aquilo que não entendo. Encontro-me despida, despojada das comuns vestes daqueles me cercam mas enriquecida daquilo que preenche o coração. Nunca em momento algum tive vergonha da minha nudez, vivi todos os momentos mesmo sabendo que nunca deixariam de ser fugazes. Não faço nem quero ser personagem de uma farsa, não pretendo representar o que não sou. Nua mas viva, trilho o meu caminho, mesmo tendo medo do abismo.

Vacilo mas jamais deixarei de caminhar ou não será esta a verdadeira essência da vida!

Saturday, April 08, 2006

Simplesmente...


Simplesmente...Procuro-te

Procuro-te em cada rosto, sem saber exactamente como será o teu.

E como dizia Eugénio de Andrade:

"...Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,com amor, com ódio,
ao sol, à chuva,de noite, de dia, triste, alegre - procuro-te"

Procuro-te...

Pois queria mais o coração, quando amargurada te busco em vão!!